Hoje em dia, a utilização de um Software de Gestão Integrado não é um comodismo, mas uma necessidade para as empresas industriais, afirma Paulo Souto. - O impacto da pandemia é inegável aqui. Os nossos clientes afirmam: “Se não tivéssemos um software de gestão que possibilitasse a conectividade remota, não poderíamos continuar a produzir.” Esta declaração é um bom reflexo da realidade de hoje - as empresas que implementaram soluções de automação de processos adaptaram-se às mudanças mais rapidamente.

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Poligrafika: Qual é o impacto da pandemia no que diz respeito à procura de soluções de automação de processos de negócio, como o MIS? Quais são os setores da indústria gráfica que tornaram-se mais ativos na implementação destas soluções desde o início da pandemia e porquê?

Paulo Souto: Estou impressionado com certas mudanças ocorrentes na indústria gráfica e embalagens. Alguns anos atrás, um certo número de processos – na área de vendas, implementação ou serviços - que agora ocorrem remotamente, estariam fora de questão. Há anos que falamos da Indústria 4.0 em vários seminários ou conferências, mas o interesse das empresas por soluções relacionadas com este conceito não é de todo proporcional ao tempo dedicado. Não se trata de uma máquina que trará produtividade e níveis de lucro específicos esperados. Como também, as soluções em nuvem - por muitos anos, foram alvo de uma grande desconfiança. Nos dias de hoje, a utilização de um Software de Gestão Integrado não é um comodismo, mas uma necessidade para as empresas industriais. O impacto da pandemia é inegável aqui. Os nossos clientes afirmam: “Se não tivéssemos um software de gestão que possibilitasse a conectividade remota, não poderíamos continuar a produzir.” Esta declaração é um bom reflexo da realidade de hoje - as empresas que implementaram soluções de automação de processos adaptaram-se às mudanças mais rapidamente. É importante mencionar que a automação ou digitalização não é o mesmo que a implementação do conceito Indústria 4.0. Da perspectiva da Indústria 4.0, um software MIS totalmente integrado é uma solução muito simples, mas é uma peça essencial do quebra-cabeça. Este ainda é um futuro distante na indústria de impressão e embalagem, embora os produtores de rótulos e embalagens que produzem para a cadeia de abastecimento alimentar sejam inerentemente mais orientados para a automação. Com o início do primeiro confinamento, o aumento de produção dessas empresas foi muito intensa. A transformação do mercado está acontecer diante dos nossos olhos, o e-commerce está alcançar aumentos recordes, o que é uma ótima notícia para a indústria de embalagens.

Como foi o ano de 2020 para a SISTRADE? Entendi que as vendas aumentaram e a equipa cresceu?

P.S.: No ano passado, as encomendas aumentaram 60% face a 2019. Os novos contratos no mercado externo aumentaram 140%. Como consequência, a nossa equipa de implementação está muito ocupada; contratamos novos funcionários, aumentamos o quadro em 10% e ainda não é o suficiente. Estamos a crescer a nível global, não só em Portugal ou na Europa mas também na Ásia; a nossa presença na Tailândia está em crescimento, temos novos clientes na Índia e em Bangladesh. É um mercado muito promissor para nós, com grande potencial, embora os projetos realizados na Ásia sejam mais complexos. Existem algumas fábricas com uma gestão de diferentes países, que empregam milhares de pessoas, portanto, o nível de complexidade do processo é incrivelmente alto. De momento, empregamos directamente cerca de 70 pessoas em todo o mundo, a maioria delas a trabalhar no Porto, claro. Em diversos países contamos com o apoio de empresas parceiras que nos auxiliam no processo de comercialização e implementação do nosso software. Até outubro do ano passado o nosso parceiro na Polónia era a empresa Reprograf-Grafikus, no entanto, decidimos encerrar esta parceria e reforçar a nossa presença direta.

Que tipo de desafios as soluções MIS respondem e quais os problemas que resolvem?

P.S.: As soluções MIS resolvem um problema fundamental para as empresas, que é a falta de mobilidade, permitindo a realização do trabalho remotamente com o acesso a todas as informações, dados e transações dentro do fluxo de trabalho automatizado. Em suma, as soluções MIS permitem um funcionamento normal durante estes tempos sem precedentes. Isto é uma mais valia para as empresas que foram obrigadas a enviar os seus funcionários para casa. Temos clientes que fazem o seu planeamento da produção em casa, isso era inédito há um ano. Mesmo em casa, os nossos clientes têm acesso a todos os dados das máquinas de produção sem a necessidade de estarem presentes na fábrica. A mobilidade e a integração de todos os processos operacionais da empresa - gestão de encomendas, compras, armazém, planeamento da produção e contabilidade - agora é uma obrigação. Naturalmente, os operadores de máquina devem estar presencialmente no chão de fábrica, sendo assim, não estamos a dizer que implementar um software MIS|ERP é equivalente a implementar a Indústria 4.0, mas sem isso, não podemos nem pensar na implementação deste último conceito. A Indústria 4.0 representa uma espécie de guarda-chuva. Percebemos que a pandemia fez com que os nossos clientes começassem a usar ferramentas que nunca antes haviam usado; eles começaram a descobrir o quão útil e avançada é a nossa ferramenta de software de gestão industrial. A mentalidade está a mudar.

É possível implementar na totalidade um software MIS remotamente? E a formação? Como é durante a pandemia, com todas as restrições de viagem?

P.S.: Atualmente, não há outra opção além da implementação remota. De que outra forma poderíamos realizar implementações na Tailândia ou na Colômbia? Nem chegamos a ir lá para assinar o contrato. Assim que retirem as restrições, vamos voltar às visitas presenciais para agilizar o processo de implementação, mas atualmente tudo é feito à distância. Infelizmente, leva mais tempo, principalmente por problemas de comunicação, os nossos clientes têm que explicar o que precisam sentados em frente a um computador. É muito mais complexo, é mais difícil para identificarmos os verdadeiros problemas, que muitas vezes residem no fator humano. Este é um grande desafio, mas não impossível, os seres humanos têm uma notável capacidade de adaptação. Para obter melhores resultados, tivemos que mudar e melhorar a nossa metodologia de implementação de projetos. Não menos importante é a questão do idioma - em muito dos casos, o inglês não é a língua materna do cliente nem a nossa. É fácil imaginar como esses projetos tornam-se complexos, mesmo sem serem prejudicados pela falta de mobilidade.

A pandemia dura há quase um ano, em breve, provavelmente a interacção remota com o cliente chegará à perfeição. Na sua opinião, a SISTRADE passará a usar este método de implementação com mais frequência, mesmo após a pandemia?

P.S.: Tenho certeza que sim. Ao alterar a nossa metodologia de implementação, descobrimos que o trabalho remoto pode ser tão eficaz quanto trabalhar localmente com o cliente. Alguns clientes têm uma certa dificuldade em compreender isso, quando a SISTRADE não está presente nas suas fábricas, eles ficam um pouco desconfiados se a implementação realmente ocorrerá sem problemas e com sucesso. Eu gostaria de fazer uma analogia com crianças, elas podem aprender tudo remotamente? Claro que não, elas vão à escola para aprender como interagir com as outras pessoas e trabalhar em grupo. É semelhante ao nosso caso, na implementação de ferramentas avançadas como um software de gestão industrial. Acho que depois da pandemia, cerca de 50% do trabalho de implementação será realizado remotamente para benefício de ambas as partes. Os clientes arcarão com custos menores relacionados, por exemplo, com as viagens da nossa equipa de implementação, e poderemos gerir melhor os nossos recursos humanos. Assim, conseguimos executar vários projetos simultaneamente no nosso escritório, o que também agilizará o processo de implementação.

O que diferencia as soluções Sistrade das concorrentes?

P.S.: Quando eu olho para o setor da indústria gráfica numa perspectiva ao longo dos anos, posso ver mudanças surpreendentes que estão a ocorrer. Por um lado, o progresso da especialização, por outro, a diversificação dos serviços. Os produtores de etiquetas estão a implementar várias tecnologias de produção para atender às crescentes expectativas dos seus clientes. Muitas gráficas, além da tradicional tecnologia flexográfica, também utilizam offset, rotogravura ou digital e, além dos rótulos, podem também produzir caixas dobráveis, embalagens de cartão ondulado ou vários tipos de produtos. A complexidade do processo é colossal, visto que um software dedicado exclusivamente à produção de etiquetas não é capaz de responder a cada desafio proposto. Ou seja, estas particularidades é o que nos torna diferentes dos nossos concorrentes – o nosso software combina todas as tecnologias de produção e os nossos processos são altamente flexíveis. O cliente não tem que implementar várias soluções dedicadas a diferentes processos, obtendo de nós uma solução completa. Não existe outro fornecedor no mercado. Além disso, graças à nossa presença global, temos experiência na integração de dados de máquinas de diferentes fabricantes - europeus, americanos ou asiáticos. Não se trata de programação, mas de parametrização, que é a nossa próxima vantagem competitiva. No ano passado, comemoramos o nosso 20º aniversário. O nosso software de gestão, está disponível em vários idiomas, está no mercado há 20 anos. Quando fazemos uma instalação na Polónia, o software funciona em polaco, na Alemanha - em alemão, e no Qatar - em árabe. O software Sistrade funciona em 25 países, em quatro continentes com a mesma versão instalada em todo o mundo. Em média, a cada ano lançamos uma nova versão à disposição de todos os nossos clientes, que inclui cerca de 500 novas funcionalidades e melhorias. O nosso departamento de investigação e desenvolvimento trabalha incansavelmente à medida que recebem dados de todas as nossas implementações em todo o mundo.

Que novas funcionalidades foram adicionadas recentemente ao Sistrade software?

P.S.: Como mencionei, o Sistrade software tem cerca de 500 novas funcionalidades e melhorias a cada ano! Recentemente, surgiram muitos desenvolvimentos no módulo do Scheduling, especialmente relacionadas à necessidade de apoiar o trabalho remoto. No ano passado, o nosso software foi atualizado quatro vezes. Cada cliente recebe um relatório com as novas funcionalidades, podendo utilizá-las ou não, mas deve possuir uma versão atualizada do sistema. Caso contrário, não seríamos capazes de garantir o mais alto nível de segurança e confiabilidade. O nosso software é totalmente cloud based, embora haja clientes que preferem ter no seu próprio servidor, ou no nosso, ou num externo alugado. Portanto, o software está disponível como licença e SaaS – software as a service.

Como está a SISTRADE nos mercados polaco e países vizinhos? Existem implementações na Polónia?

P.S.: Estamos aumentar gradualmente a nossa participação no mercado da região da Europa Central e Oriental. A SISTRADE mudou muito nos últimos meses - como mencionei, encerramos a nossa cooperação com a Reprograf-Grafikus e decidimos vender e cooperar diretamente no mercado polaco. Atualmente estamos a implementar o software na - Illochroma Haoneng Poland - na Cracóvia, que faz parte de um grupo chinês e produz etiquetas em offset. Possui também uma fábrica na Bélgica, onde estamos a implementar o nosso software em paralelo. A previsão é que a fábrica que vai inaugurar em França também passe a usar o nosso software. Nos últimos meses, assinamos contratos com empresas de Espanha, Itália, França, Bélgica, Sérvia e Polónia, além da Ásia e América Latina. Portanto, estamos a crescer na Europa e fora dela. Foi um ano muito bom, apesar das condições complicadas e difíceis e, claro, não seria possível sem uma equipa empenhada e motivada e com a confiança dos nossos clientes. Afinal, somos uma empresa relativamente pequena.

Parabéns e obrigado pela entrevista! https://poligrafika.pl/

Entrevistado por Anna Naruszko

Data: 8 de março de 2021